A dor é um fenômeno de despertamento!
- Sexta-Feira, 14 Novembro 2025
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Despertar é se dar conta de que existe uma fonte de amor plena para além de nós e é ela que nos desperta. Se Deus é nosso criador, se nos ama e nos cria, cria também o desejo de sermos amados e a necessidade de sermos despertados por esse amor. Nessa verdade é que começa o registro de nossa interioridade, nos ensina Santo Agostinho. Temos que nos dar conta de que a narrativa "para viver, tem que morrer" é um paradoxo. Significa que para receber com alegria a vida que se nos dá é necessário deixar morrer a todas as nossas imaginações de poder e controle. Sendo assim, despertar-nos não é uma ação nossa. Há outra coisa muito antes de nós que vem e nos desperta, para além do eu autônomo. Esse despertamento se produz nas emoções de nossa interioridade. É algo íntimo que podemos reconhecer, sem, no entanto, produzir. É o começo de nossa identidade ou ipseidade.A dor que desperta desnuda toda fantasia de poder. Ela atravessa o intento de controlar a manifestação de qualquer controle.Quando apagamos a dor, também apagamos o despertamento. Na tentativa racional de acalmar a dor e suavizar a ansiedade, também deixamos de ser suscetíveis àquilo que nos desperta. Para viver, precisamos de oportunidades de despertamento, e a dor e a ansiedade são despertadores essenciais. A realidade do amor de Deus se manifesta por infinitos despertadores, que, por assistência do Espírito Santo, se nos dá para abrir nossos olhos a cada manhã e nos depararmos com sua infinita misericórdia.Assim, mesmo que nem tudo tenha se resolvido e sanado, o despertamento ao amor de Deus nos revela um novo modo de pensar, muito diferente do modo de pensar até esse momento.O despertamento não vem de técnica ou conhecimento, de medicamento, chá ou alimento, mas da criação da intimidade com aquele que nos amou primeiro. É aí que se abrem, sem aviso ou medida, as portas e janelas do sentido da vida.----------Texto de Carlos José Hernández (médico psiquiatra, doutor em medicina) e Clarice Ebert (psicóloga - CRP08/14038, terapeuta familiar e de casais, mestre em teologia). Clarice Ebert (@clariceebert) é psicóloga (CRP0814038), Terapeuta Familiar, Mestre em Teologia, Professora, Palestrante, Escritora. Sócia do Instituto Phileo de Psicologia, onde atua como profissional da psicologia em atendimentos presenciais e online (individual, de casal e de família). Membro e docente de EIRENE do Brasil.* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.Leia o artigo anterior: Emoções redimidas









